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Marituba, Pará, Brazil

domingo, 10 de junho de 2012

Brinquedos antigos viram febre nas ruas


No tempo em que crianças, jovens e adultos têm como diversão jogos em videogames, celulares, computadores e tablets, um brinquedo simples voltou com força total após mais de 15 anos fora do mercado: o “tec-tec”. O tec-tec é composto de duas bolas coloridas de acrílico ou plástico amarradas por um barbante (muitas vezes fio de varal) numa palheta e pode ser adquirido por R$ 2 ou R$ 3.


O nome do brinquedo vem do barulho que produz; um som que ultimamente tem invadido as ruas da capital paraense, em qualquer horário do dia.  A diversão do tec-tec é conseguir fazer esse som o mais rápido possível durante o maior espaço de tempo, o que requer coordenação motora e muito treino. O brinquedo virou uma fonte de renda no comércio informal da Região Metropolitana de Belém (RMB) e também no centro comercial da capital.

 Lentamente, o ioiô também retorna ao mercado e também deve ganhar espaço nas férias de julho, mas ainda não compete com o tec-tec. A dona de casa Ana Carolina Mota, de 28 anos, é mãe de Alison, de 8 anos. Ela disse que ficou surpresa ao ver os tectecs voltando às ruas depois de 15 anos. Quando criança, ela também brincava.

'Na minha época era mais pesado e ficávamos com hematomas e caroços nos braços. Por isso minha mãe não deixava eu brincar. Hoje, ela precisa esconder do meu filho porque ele se apegou e já acorda pensando em brincar. De tanto bater já quebrou o dele e pediu para comprar outro, mas já disse que não. Adultos também brincam por aqui, como meu irmão. Eu também já arrisquei com esses novos, que são bem leves. Na rua, o barulinho é em todo lugar', disse. 

O ortopedista Wilson Fiel explica que o medo da mãe de Ana Carolina não é infundado, pois de fato há riscos, principalmente para crianças menores de 12 anos. “Pode causar contusões quando bate no braço.
Essa contusão pode inflamar e até limitar o movimento da mão. Mas isso precisaria de um golpe muito forte num ponto muito específico. O risco de lesão por esforço repetitivo (LER) é muito baixo”, observou. 

A antropóloga Denise Machado, professora do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal do Pará (IFCH-UFPA), diz que esse fenômeno da volta de brinquedos que fizeram sucesso em décadas passadas é natural. Ela explica que brinquedos e brincadeiras são formas de se distrair, passar o tempo e desligar da realidade ou do cotidiano.

Para ela, os brinquedos são uma parte da cultura muito dinâmica, pois vêm e vão de repente, ficando adormecidos por um tempo. Ela também acredita que o sucesso dos tectecs se deve ao fato de ser algo barato, que oferece um desafio que requer coordenação motora e pode ser levado para qualquer lugar dentro de bolsas ou mochilas. 

Outro brinquedo que começa a ganhar espaço novamente é o ioiô, que está voltando ao mercado. E há poucos anos, o pião virou febre por conta do desenho japonês 'Beyblade', em que piões continham criaturas mágicas usadas em campeonatos e batalhas contra as forças do mal. 
'É uma mudança interessante, pois as crianças têm muita energia e gostam de desafios e competição. É quase uma vergonha não ter um tectec ou não saber operar. Hoje em dia os pais fecham muito os filhos em casa por medo da violência na rua e diminuem o contato social. Os adultos também brincam porque é a fuga da realidade e uma distração da correria do dia a dia. Não é coisa de criança. É coisa do ser humano', comenta. 
Ela cita o trabalho do historiador francês Phillippe Ariès, no qual os brinquedos são objetos adultos que são apropriados por crianças. 'As bonecas nasceram com as bruxas que praticavam vodu e depois serviam de companhia. Os chocalhos eram usados por pajés para afastar os maus-espíritos. A indústria e o comércio se aproveitam', avaliou.

Fonte: O Liberal

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